Pular para o conteúdo principal

A vibe dos Laboratórios de Inovação em Governo e um checklist projetual

Tem emergido na área governamental, felizmente, a ideia de criar laboratórios de inovação como um ambiente de criatividade e solução de problemas do setor público.

Tive a oportunidade de ajudar a criar para o Governo de São Paulo, em 2015, o iGovLab, permitindo estudar e entender melhor as potencialidades e objetivos de um laboratório de inovação, aprender com erros e saber quais caminhos e com quais companhias devemos contar. Depois disso, nos colocamos a observar e apoiar outras propostas de laboratórios dessa natureza no governo paulista, como no Metrô, na Secretaria de Educação, na FATEC e mais recentemente na SEFAZ, além de auxiliar conceitualmente outros Estados e Municípios que tem essa intenção.

É raro que os entusiastas pelo tema em governo se perguntem para que fazer um lab dessa natureza, parece inerente pois nem explicam com clareza esse entusiasmo, desviar do porque esconde a falta de conhecimento mais profundo sobre seus desejos ou, pior ainda, estar seguindo um fluxo que outros governos também estão por modinha, numa vibe onde podem ocupar seu tempo.


Mais raro ainda é se preocuparem em definir o como o lab irá atuar, com quais métodos, em quais segmentos, com quais apoios, amplitudes, enfim tudo que esteja além da definição do projeto arquitetônico, móveis e equipamentos do lab, que parece ser a única preocupação dos iniciantes. Entendo, o tema é novo, paredes escrevíveis e móveis descolados são bacanas de mostrar... toda essa coisa porém pode atrasar e dar má fama ao projeto.

Tentarei organizar em três ou quatro posts uma espécie de checklist para orientar as discussões internas e tentar responder aos porque, pra que, como e o que na criação de um laboratório de inovação, colocando questões que, se não puderem ser respondidas antes da criação, possam estar ao menos entre as preocupações da equipe.

O primeiro grupo de perguntas refere-se aos aspectos projetuais do laboratório, constituindo uma etapa inicial de discussão e evitando perguntas evasivas ou que permitam respostas mais filosóficas sobre a inovação. Minha sugestão é que sejam colocadas na primeira reunião e, colaborativamente, se agreguem os vários pontos de vista nas respostas dos participantes. Aqui estão:

       Qual a amplitude/competência do laboratório? Tem foco temático/setorial?
       A proposta do laboratório deixa claro em quais tipos de problemas poderá utilizado ?
       É explícito que tipos de problemas ou projetos o laboratório não vai fazer?
       O laboratório usa ou pretende usar apoio legal? Quais?
       Estão identificadas as lideranças setoriais e stakeholders que apoiam o laboratório?
       Está claro quais os projetos ou etapas de projetos que o laboratório vai suportar? ( por exemplo, será responsável por entender os problemas (imersão), ou para a identificação de soluções (ideação) ou para testar e implementar as soluções, ou vai fazer todas essas coisas? haverá outros métodos e técnicas?)
       As qualificações disponíveis no laboratório combinam com seu alcance? Existe conhecimento sobre os métodos, técnicas e ferramentas a serem utilizadas?
       Existe algum tipo de suporte para o laboratório quando se deparar com dificuldades ou qualificações inesperadas? ( por exemplo, parcerias com universidades e especialistas)
       Foi feita alguma avaliação sobre a instalação ou manutenção ser feita em parceria com o setor privado?
       Se existe a opção de parceria privada, como assegurar que o laboratório seja visto como legítimo e confiável por funcionários públicos?
       No caso de parceria interna no governo, quais órgãos podem agregar ao laboratório? O que eles podem oferecer e desfrutar? Qual o grau de maturidade desses parceiros para inovação?

Essas questões antecedem a definição de espaços, móveis e equipamentos. Acredito que baste para um primeiro encontro, mais adiante entraremos em perguntas que orientem aspectos de governança e modelo de negócios dos laboratórios. Como sempre, comente e compartilhe como quiser.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cinco Princípios para Novos Serviços Públicos. Terceiro: o Governo como Plataforma

A ideia de Tim O'Reilly ao criar o termo e a abordagem de Governo como Plataforma, foi dar uma perspectiva de valor de patrimônio e de uso aos dados governamentais. Inicia explicando que as plataformas seguem uma lógica de alto investimento, onde praticamente só o Estado é capaz de investir, mas permitem à população, ao utilizarem essa plataforma, gerar riquezas. Temos um claro exemplo ao pensar em uma rodovia como esse investimento. O governo a constrói, mas a entrega aos usuários para trafegarem seus produtos, serviços, passageiros, estimular turismo e economias integradoras etc.. Em outras palavras, uma plataforma rodoviária do governo, mesmo em concessão, será usada pela sociedade, mesmo a custo de pedágios. O mesmo serve para plataformas digitais. O governo americano durante a gestão Reagan, em 1983, tornou disponível ao mundo o Sistema de Posicionamento Global - GPS. A partir do uso mundial dessa plataforma podemos calcular quantos outros produtos e serviços foram gerado

Cases de Design Thinking em Serviços Públicos fora do Brasil

É comum que me perguntem sobre cases de uso do Design Thinking pelos governos brasileiros, sejam municipais, estaduais ou federais. Há um certo "ver para crer" na pergunta, mas há também a necessidade de mostrar aos outros, incluindo chefes e tomadores de decisão, que existe um caminho mais promissor e realizável para tratar os desafios de hoje. Minha experiência aponta mais para aquilo que fazemos no Governo do Estado de São Paulo, desde 2010, quando adotamos o DT como abordagem metodológica para entender a complexidade e resolver problemas com foco no cidadão. Nesse período vimos crescer a utilização em grandes empreendimentos como Poupatempo, Metrô, Secretarias da Fazenda, de Desenvolvimento Social e da Educação. Alguns outros exemplos e cases nacionais no setor público podem ser encontrados na Tellus , que tem atuado bastante em prefeituras e especialmente nas áreas de saúde e educação. Mas neste post quero apenas apontar para alguns links daqueles que trabalham e

Laboratório é problema, mas a governança ajuda a resolver

É preciso considerar que um laboratório de inovação pode atrair pessoas que desprezam as regras, não tanto por rebeldia, mas como um estilo de vida, um espírito independente que busca ocupar um espaço. O lab será visto como um oásis – ou miragem – no deserto de novas ideias das corporações. Em parte isso é justificado pela aura de criatividade que envolve o novo ambiente ao transmitir uma mensagem de liberdade, com suas técnicas de ideação que estimulam a distância dos valores burocráticos e, claramente, a palavra disruptura que carrega um certo rompimento com padrões. Isso cria alguns problemas iniciais para a organização que começa o funcionamento do laboratório, tais como: se outras organizações participarão do laboratório, alguns ajustes serão necessários; a segurança física/predial pode ser fragilizada com a presença de “gente de fora”; a segurança digital terá que se adequar ao ambiente de acesso irrestrito e wifi; os horários de funcionamento podem sofrer mudan