"Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade."
Edson Marques
A esta altura já
deixamos para trás algumas crendices em relação à inovação em governo. Uma
delas é acreditar que inovar dependerá de mudanças rápidas e radicais na
estrutura organizacional do governo, como por exemplo, acabar com as
hierarquias, ou então, dar fim à estabilidade de emprego do funcionalismo, ou
ainda, estabelecer metas de inovação setoriais, imaginando que decretos ou imposições
possam trazer a criatividade à realidade do serviço público.
Nada contra as
idéias radicais, mas essas todas levam a uma mesma reação: então é impossível
inovar!
Sabemos como
paralisar, reduzir ou até inviabilizar projetos, basta trazê-los para o campo
da complexidade, exigir a velocidade que uma gestão de quatro anos impõe e
criar grupos de trabalho intersetorias com metas claras em termos estratégicos,
mas obscuras no detalhamento tático. É uma direção que impede inovar nos
projetos, pois a preocupação centra-se em resolver problemas da estrutura, quer
organizacional ou procedural, no lugar de entender problemas do usuário dessas
estruturas, principal foco dos serviços públicos e imensa fonte para projetos
inovadores.
A estrutura de
organização e o estabelecimento da hierarquia, por exemplo, são meios pelos
quais os governos e grandes organizações viabilizam, há séculos, suas metas de
produção de bens e serviços, concentrando esforços em áreas especializadas,
racionalmente separadas por áreas meio e fim, promovendo o desempenho de papéis
profissionais, no que já foi chamado de dramaturgia burocrática.
Temos um passado
e presente que confirmam que esse tipo de organização de pessoas, até certo
ponto, funciona; afinal foi o que nos trouxe até aqui. Mas também é evidente
que a gestão do conhecimento e a criatividade não cabem em um modelo
departamentalizado ou mesmo compartimentalizado.
Ao vivermos em uma
sociedade organizada em rede que se contrapõe a um governo organizado no
formato hierárquico, é natural que tenhamos, pelo lado do cidadão, a
insatisfação com os serviços públicos e, pelo lado daqueles quem prestam os
serviços, a frustração pela falta de oportunidades de realização profissional
trabalhando para o governo.
À forma
organizacional do governo devemos sobrepor a estrutura inteligente em rede, sem
a necessidade de mudanças imediatas no organograma, mas na direção certa, o que
é mais importante. Assim, colocar para funcionar um programa de inovação em
governo dependerá muito mais das pessoas que irão colaborar nesse processo, do
que em uma reforma estatutária das organizações.
Entretanto
deve-se cuidar para que essa estrutura inteligente em rede não seja confundida
com a organização informal, aquela formada a partir de interações espontâneas entre
os membros de uma organização. A organização em rede, sobreposta à organização
formal, parte de ação organizada e formalizada, representando conexões de
responsabilidades e especialidades para fins conjuntos.
Algumas técnicas
de reestruturação organizacional, como a matricial por projeto ou a criação de
grupos de trabalho, buscam esse tipo de conexão e relacionamento, porém
dirigidos para ações pontuais, para projetos com início-meio-fim determinados,
diferentes de programas contínuos de inovação.
Para fazer
acontecer a inovação em governo, sem a necessidade imediata de mudanças
radicais, porém considerando as nuances de inovação disruptiva que poderá
representar a curto prazo, não será necessário abolir estruturas, derrubar
dirigentes ou contratar uma equipe de gênios em gestão pública. Propõe-se aqui
estratégia e método, que sejam adaptáveis em dimensões, etapas, timing e demais
fatores convenientes à ação local.
São essas ações
que dão direção objetiva a um programa de inovação contínua, não apenas pela
formalização, que apenas cria o programa, mas especialmente pela manutenção de
um ambiente colaborativo, interdisciplinar e baseado em pessoas.
Talvez por esse
motivo, temos visto com satisfação que tais programas sejam estimulados por
áreas de recursos humanos, ou gestão de pessoas, em aliança com os responsáveis
por áreas de marketing e comunicação, assim como gestão de tecnologia de
informação, que oferecem o suporte da rede de comunicação para os projetos.
Entretanto,
consideramos essa uma estrutura temporária, que dá conta do pontapé inicial na
inovação em governo, os demais passos devem prever a criação de diretoria ou
gerência capaz de tocar o programa, com boa penetração em todas as unidades da
organização e capaz de estimular a criatividade em todas as atividades da
corporação.
É preciso deixar
claro que um órgão responsável pelo programa de inovação não é o responsável
pela inovação, não é o centro de novas ideias e de onde imanam soluções criativas e bem sucedidas. O
objetivo principal desse órgão é implantar e manter um programa que estimule a
inteligência coletiva da organização e de seus usuários, auxiliando os demais
órgãos a inovar em métodos, produtos e serviços, por meio da disseminação de
técnicas e ferramentas que possam ser aplicadas à ação local.
Como objetivos
específicos, uma Diretoria ou Gerência de Inovação, empenha-se em prospectar
novas formas de organizar serviços, tecnologias e pessoas, buscar boas práticas
em governo, realizar benchmarks e
avaliações, capacitar dirigentes em inovação, monitorar tendências no segmento
de governo, para que as respostas do governo à sociedade sejam mais rápidas e
eficazes. Há também outros dois objetivos específicos que fazem parte desse
órgão: a incubação de projetos inovadores e a aferição do programa como um
todo.
No próximo post vamos dedicar às dimensões para a inovação.
Comentários
Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
Que, aliás, não é de Clarice Lispector.
Se puder, veja o poema todo, assim como o vídeo e o livro Mude, publicado pela Pandabooks, com prefácio de Antonio Abujamra, e à venda nas maiores livrarias.
E o vídeo Mude pode ser visto aqui, no Comercial da Fiat:
http://www.youtube.com/watch?v=-IwFkGLRKps
Ou aqui:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=KlP9XpjVsas
Devidamente registrado na Biblioteca Nacional do Ministério da Cultura – Registro 294507 – Livro 534 – Folha 167 – em 04/08/2003.
A Revista Veja publicou matéria a respeito: http://veja.abril.com.br/090703/p_103.html
Além disso, tal poema também já foi publicado por Pedro Bial na faixa 4 do CD Filtro Solar.
Até o “mago” Paulo Coelho tem plagiado este meu poema, tanto no Twitter, quanto no Facebook, e em vários jornais e revistas, do Brasil e do exterior, como se pode ver aqui: http://mude.blogspot.com.br/2011/04/paulo-coelho.html
Mais detalhes em http://Mude.blogspot.com
/// Para o poeta, o importante é encantar o coração do leitor. Mesmo que este suponha ter sido encantado por Clarice Lispector ou Paulo Coelho...
Compreenda-nos pela extensão do comentário, mas é que, além de esclarecer o fato, gostaríamos de saber onde foi que você viu que é “de Clarice”? Pois queremos passar a informação correta também a essa pessoa, para evitar que tal erro de autoria seja ainda mais disseminado.
Abraços,
Peço desculpas a você e aos nossos leitores por reforçar um equívoco.
Corrigi de imediato.
Acredito que, não sendo vc um de nossos leitores, está vigilante quanto a esses cometidos na internet, a ponto de ser alertado quando ocorra, o que imagino dispensar saber onde vi atribuído à Clarice.
Boa sorte.