Será que o indústria brasileira não percebe que a inovação é parte importante na estratégia para sair da crise? A julgar pela recente pesquisa da FIESP, sobre os obstáculos à inovação relatados por 334 empresas paulistas, parece que não há essa percepção.
Em resumo, a pesquisa aponta para seis ítens considerados conclusivos, no que diz respeito ao que nos impede de inovar.
O primeiro deles cita a elevada taxa de juros que, somada à volatilidade do câmbio, gera riscos e incertezas. O medo de arriscar parte do princípio de que a inovação é algo revolucionário, feito em grandes medidas, quando, na verdade, pode ser apenas uma mudança simples e com baixos custos, como anteriormente defendemos aqui.
Um exemplo recente de boa idéia e baixo custo é o novo projeto português criado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (ADPC), em que o poder público, a iniciativa privada e os atores sociais unem-se a fim de promover uma administração pública de inovação tecnológica. O projeto é, segundo o presidente da Associação, Diogo Vasconcelos, uma forma de combater a crise, driblando as limitações financeiras impostas por ela.
Sim, você pode dizer que é mais uma PPP (Parceria Público Privada), mas insisto que conheça a solidez e envolvimento da sociedade que a proposta lusa apresenta.
Para entender porque nosso país ainda não faz o mesmo, voltamos então a outro ponto já comentado aqui : o Brasil ainda não sabe aproveitar a força que a união nos proporciona. E isso é algo que parte de dentro das próprias organizações, como aponta o sexto ítem que conclui a pesquisa da FIESP, dentro do campo que corresponde aos obstáculos enfrentados internamente pela empresa, foram citados:
- O desconhecimento do processo de gestão da inovação,
- A fraca cooperação entre os departamentos da empresa e
- A incapacidade de mobilizar os funcionários.
Certamente há uma crise de gestão. Tenho visto, com certa tristeza, que esses três itens são raízes expostas da negligência gerencial. Se pensarmos como gerentes e gestores, veremos que é preciso partir da solução de problemas básicos, como a constante busca por atualização e uma inequívoca política de inovação, para que os obstáculos apontados se tornem apenas boas oportunidades para o aproveitamento de soluções criativas.
Não se trata de simples competitividade, mas de sobrevivência. Ignorar que o conhecimento e a inovação formam o principal ativo das corporações deste século é como desprezar resultados financeiros. Penso que no novo mundo, corporativo e governamental, as áreas de recursos humanos - ou gestão de pessoas como prefere o Ricchetti - tem finalmente o mesmo status que as áreas de finanças.
Enquanto as empresas brasileiras, sejam públicas ou privadas, passivamente apontarem problemas e não enxergarem a força que há na união em prol de um objetivo, estaremos enfraquecidos e solitários diante do mundo. Afinal, quantas iniciativas formais e estruturadas de Gestão do Conhecimento e Inovação você conhece, tanto nas empresas quanto em governos no Brasil ?
E se o caro leitor tem uma boa idéia para a gestão pública, não deixe de registrá-la em http://inovagoverno.tk/, onde você também pode conhecer e votar nas idéias dos outros.
Post post: Acabo de ler um artigo no jornal espanhol El País, que entrevistou Afons Cornella, sob o título "Aquí hay 'Steve Jobs', pero no les dejamos emerger". Uma providencial abordagem sobre a saída da crise pela inovação e as dificuldades que a Espanha sofre para encontrar esse caminho, concluindo com a seguinte frase "O desencanto do empresário é talvez o primeiro problema deste país.".
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